quarta-feira, 21 de abril de 2010

A névoa

Esta história que vou lhes contar, me foi relatada por um amigo meu que esteve em uma viagem de negócios na Nova Escócia, não sei os verdadeiros nomes dos envolvidos, os nomes que aparecerão aqui, inclusive do navio, praia, cidade e pessoas são apenas simples sugestões para melhor entendimento do relato. Há uma velha lenda entre os marinheiros da costa norte do Atlântico, que fala de um navio mal assombrado e de sua tripulação de fantasmas, envolto de uma névoa, que procuram vítimas para saciarem a sua sede de vingança pelo embuste que sofreram no passado, que os levaram direto para uma morte fria, gelada e escura nas profundezas do Oceano Atlântico. Tudo começou em 1881, quando Sir Antony Bayes, um rico homem de negócios inglês, que sofria do mal de lepra, comprou um lote de terras em uma região isolada do litoral canadense com o propósito filantrópico de fundar uma colônia de leprosos naquela região e prestar – lhes toda a ajuda que pudesse, para isso levaria com ele toda a sua grande fortuna convertida em barras de ouro. Uma vez que seus emissários fecharam o negócio com o prefeito da cidade litorânea de New Pitt, Sir Bayes comprou um barco de nome Queen Vitória ( Rainha Vitória ) e após embarcar todos os pacientes que sofriam de lepra, iniciou uma grande travessia da Inglaterra até a costa canadense, mas uma grande tragédia estava para acontecer e Sir Bayes, os tripulantes e passageiros do Queen Vitória seriam as maiores vítimas. O prefeito de New Pitt, Neil Gordon em conluiou com mais quatro conspiradores, estavam, secretamente, arquitetando detalhados planos que poderiam provocar o naufrágio do Queen Vitória e conseqüentemente com isto a morte da tripulação e passageiros e para isso contavam com a cumplicidade de Johnny Flint um dos marinheiros do barco, que os auxiliaria em troca de uma porcentagem da fortuna. Os conspiradores além de desembolsarem uma boa quantia em dinheiro pelo pagamento que receberam, pretendiam se apossariam da fortuna em barras de ouro de Sir Bayes e oportunamente também se livrariam do desagradável fardo de terem vizinhos à sua cidade, uma colônia de leprosos repelentes. Na meia – noite de 21 de abril de 1881, o Queen Vitória estava rumando para a baía de New Pitt, quando Gordon e três dos conspiradores acenderam na praia uma enorme fogueira para guiar o navio rumo ao local da praia que deveriam, secretamente, atracar, um combinado feito entre Gordon e Sir Bayes, porém Gordon teria que escolher um ponto onde não houvesse recifes e ele fizera justamente o oposto, a fogueira foi acendida no local da praia onde haviam enormes e cortantes recifes, o Queen Vitória estava indo direto para a armadilha que Gordon e seus cúmplices haviam planejado. O quinto conspirador, o tabelião Nigel Trent, que na juventude fora exímio marinheiro, foi encarregado de roubar a fortuna junto com o marujo do navio Flint. Trent esperando por ele em bote no ponto indicado ( Flint tinha um mapa do litoral de New Pitt ). Flint havia assassinado o contador e um segurança que vigiava os 06 caixotes onde estavam escondidas as barras de ouro e os carregara consigo até o bote que havia preparado par a fuga. Ao chegar na costa Flint transferiu quase todos os caixotes para o bote de Trent e ficara com um para si, conforme combinara com os conspiradores e antes de tomar o seu rumo, assistira com Trent, o macabro espetáculo que foi o naufrágio do Queen Vitória, no recife da praia de New Pitt, que recebera uma ajuda inesperada. Um nevoeiro que apareceu repentinamente, como que por encanto, defronte ao Queen Vitória, praticamente, impediu o capitão de ver o que estava à sua frente, o que facilitou o naufrágio, o navio bateu contra os recifes e começou a afundar lentamente, o destino de Sir Bayes, da tripulação e dos passageiros estava selado. Trent e Flint, observavam à distância, no bote, o navio naufragar no mar, enquanto que Gordon e os demais testemunharam na praia o trágico desfecho do Queen Vitória e de seus desafortunados tripulantes, pois nenhum deles conseguiu escapar, todos a bordo do navio foram todos tragados pelo mar e tão logo o navio afundou no oeano, assim como repentinamente surgiu o nevoeiro foi embora. Os conspiradores ficaram perplexos, pois não entenderam de onde surgira aquele misterioso nevoeiro, mas reconhecem que ele fora providencial, pois dera o pretexto que precisavam para explicar o “ acidental ” naufrágio do Queen Vitória, quando algum eventual curioso fizesse perguntas sobre o ocorrido, mas para a sorte deles ninguém se interessou pelo fato. Gordon e seus comparsas estavam satisfeitos pois abocanharam uma imensa fortuna em barras de ouro e se livraram do desagrado de terem que conviverem ao lado de uma repulsiva colônia de leprosos repugnantes, Flint por seu lado, pegou a sua parte e se mandou da região. Um ano após o naufrágio do Queen Vitória, na mesma baía dois pescadores a bordo de um bote estavam pescado uma boa quantia de peixes para venderem no cais. Era meia noite exata de 21 de abril, quando repentinamente na frente deles apareceu um enorme nevoeiro que os encobriu, desde então não se ouviu mais falar neles, até que foram encontrados mortos no bote deles a deriva, três semanas mais tarde, a duas milhas ao norte do local onde estavam, por um navio mercante. Ao chegarem ao cais de New Pitt, o capitão do navio mercante explicou ao comandante da Capitania do Porto, sobre os dois desafortunados marujos, porém seu bote foi apenas rebocado à distância pelo navio, pois não puderam ser recolhidos a bordo, estavam infectados com lepra. As autoridades sanitárias de New Pitt, foram acionadas, mas não foi encontrado nenhuma evidência de como e onde foram infectados, como não tinham parentes que reclamassem os corpos, estes, por questão de segurança foram incinerados, para evitar propagação da moléstia na região. Para Gordon este estranho acontecido, não tinha o menor sentido, Trent, entretanto, relacionou, a morte da dupla de infelizes marujos, com dois fatos, o desaparecimento deles se deu no mesmo dia do naufrágio do Queen Vitória e eles estavam infectados pela lepra a mesma doença que acometera Sir Bayes e seus tripulantes e até aquele momento nunca ocorrera naquela localidade. Um ano depois no mesmo 21 de abril à meia – noite, um barco pesqueiro estava ancorado na Baía e um marinheiro que estava confinado a bordo por indisciplina, desobedeceu o capitão e decidiu ir até o porto de New Pitt farrear. Ele desceu um bote e estava rumando par o cais quando um enorme nevoeiro surgiu à sua frente e o encobriu, a partir daí desapareceu completamente. Foi encontrado alguns dias mais tarde, morto no seu bote à deriva, por outro barco pesqueiro e levado para o cais, como ocorrera anteriormente o seu bote fora rebocado pelo barco que o encontrou, pois para assombro de todos, o cadáver estava infectado pela lepra, o xerife Sommers, que também fora um dos conspiradores, examinou os pertences da vítima e encontrou nela um bilhete escrito que o deixou assustado. Mais tarde em uma reunião secreta ele mostrou a Gordon e os demais conspiradores o bilhete, que para espanto de todos, principalmente de Gordon, que a conhecia perfeitamente, a caligrafia era de Sir Bayes, estava escrito “ Onde está a minha fortuna em barras de ouro ? ”, o medo tomou conta do grupo. Pouco mais de um ano depois, em 21 de junho, um barco pesqueiro encontrou um bote à deriva rumando em direção à praia de New Pitt com um homem morto dentro dele, o cadáver também estava infectado pela lepra. O médico legista constatou pela rigidez do corpo que o infeliz estava morto há pelo menos uns dois meses. Para muitos, na cidade, o infeliz encontrado morto era um completo desconhecido, mas o xerife Sommers o reconheceu assim que o viu, e convenientemente, se calou e manteve tudo em sigilo, tratava – se de Johnny Flint, o marinheiro que traiu o Queen Vitória e fora cúmplice deles na conspiração contra Sir Bayes. Durante a reunião Gordon, soube por Trent que Flint fugira para Newport, Rodh Island, e se estabelecera como um próspero comerciante, Gordon então ordenou que fosse feita uma investigação. Trent entrou em contato com as autoridades de Newport e soube por elas, que Flint estava desaparecido desde a noite de 21 de abril. Pelo que foi relatado a Trent, Flint saíra para pescar no porto naquela noite, quando a meia – noite em ponto, segundo uma testemunha ( um marinheiro bêbado que estava no cais naquele momento ), surgira do nada, um enorme nevoeiro que encobrira o bote de Flint e tão logo o nevoeiro passou tanto o bote como o seu ocupante desapareceram completamente, depois daquela noite Flint nunca mais foi visto. O xerife ao examinar os pertences pessoais do finado Flint encontrou um bilhete ( com a mesma caligrafia de Sir Bayes ) que mostrou em uma reunião com os demais conspiradores. O bilhete assim dizia “ Ele foi o primeiro ! Onde estão as minhas barras de ouro ?” Gordon e os demais reunidos ficaram incrédulos, seria uma vingança do além. A partir daí nasceu a lenda do nevoeiro assombrado que na noite de 21 de abril a meia – noite surge para caçar e castigar os responsáveis pelo afundamento do Queen Vitória e pelas mortes trágicas de Sir Bayes e dos demais tripulantes e ele só terminará sua sina quando a fortuna em ouro for restituída ao espectro de Sir Bayes e dos demais tripulantes, do contrário voltarão do além em busca de vingança.

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